quinta-feira, outubro 06, 2011
quinta-feira, setembro 15, 2011
Mentia se dissesse que não sinto a tua falta, mas também mentia se não dissesse que este fosso que cavei é a melhor coisa que fiz nos últimos tempos. Mentia se não dissesse que já pensei construir uma prancha de madeira para atravessar o fosso, mas também mentia se dissesse que não sabia que isso seria horrível e que a tua existência, neste momento, é incompatível com a minha. Subitamente todas as músicas voltaram a falar de ti, todas as coisas escritas falam do teu nome e até os cães na rua parecem ladrar-me de ti, é como se o mundo tivesse acordado todos os dias para me massacrar. É nessas alturas que agarro no telemóvel e parece que me debato com uma força invisível, sou eu contra o mundo, acabando por me enganar a mim mesmo e penso que só queria ver as horas, horas que não passam depressa demais, as horas sempre se associaram à tua existência; as horas que passavam a correr na tua presença, as horas que passam devagar demais se penso em ti, conto os minutos todos para te esquecer, nunca mais é hora de simplesmente recordar tudo com um olhar fácil e desinteressado, nunca mais é hora de perder vontade de te ver.
Acho que simplesmente tenho de cavar mais fundo e ver o que encontro na distância, porque ao perto só encontraria a confrontação de uma idealização que caiu por terra.
Acho que simplesmente tenho de cavar mais fundo e ver o que encontro na distância, porque ao perto só encontraria a confrontação de uma idealização que caiu por terra.
sábado, setembro 10, 2011
Vamos chamar-te Alice, porque vives do outro lado do espelho. Nesse espelho confuso e baço, onde as coisas ora reflectem com sol ora com nuvens, onde os sorrisos podem tornar-se semblantes pesados num instante, onde a certeza de hoje é a dúvida de amanhã. Vamos dizer, "alice, sai do espelho..por amor de deus!". E tu não ouves...no entanto estás ali tão perto que até dói só de olhar, tanta beleza que se escapa por entre os murmúrios e os lamentos, tanta coisa desperdiçada que agora não sou eu que te vou dar...e tinha demasiado, muito mesmo, para te dar.
Havia risos que ficaram por rir e coisas que ficaram por falar, coisas que agora são histórias que se podem só imaginar, isto se quisermos tornar-nos masoquistas e indagar como teria sido.
Teria sido bom, no mínimo teria sido apenas bom, no limite teria sido quase perfeito, no limite do zigzag da vida fui desencontrando-me de ti até te encontrar e depois, tu saíste aos zigzags da minha vida, optaste por ir saindo devagar, sem me dizer que estavas a entrar no espelho, ó Alice...que foste tu fazer? Nesse espelho não há nada, quanto tempo vais ficar a olhar de fora e a pensar que podias ser mais feliz, em vez de o fazeres activamente?
Alice do espelho, menina das travessuras e do sorriso malandro, do nariz empinado que não se empina tanto, das piadas, dos peidos, dos comportamentos invulgares e senhora absoluta das colheres de café. A tua varanda vai-se esquecer de mim e de nós, tal como tu vais também, e eu claro que sim, tudo não será mais do que uma memória de semanas que podiam ter sido meses, meses que podiam ter sido anos; a tua varanda e tu vão esquecer-se de mim e eu vou esquecer-me de ti, porque é mesmo assim Alice, a vida leva-nos para longe quando não podemos ficar perto.
Nem sei que vai acontecer agora, vou buscar as pinças de arrancar sentimentos, vou abrir-me lentamente e retirar as coisas, vou afogar as coisas em algum álcool, vou pensar em ti inúmeras vezes e nunca mais te vou dizer que o fiz, vou cantar uma ou duas músicas quando estiver em palco e garanto-te que vou pensar em ti, mas nunca o saberás senão através deste texto, é impossível comunicar com um espelho e quanto mais grito, quanto mais dou voltas à cabeça, quanto mais arrancava de mim para suportar isto, mais longe tudo ficava no espelho. De que me vale ter telescópios que olham para os confins do universo, se tu tão perto estás tão longe e impossível de ver? Alice, sabes metade do que perdeste, o resto nem nunca te consegui sequer mostrar. Se calhar ias gostar de algumas coisas e outras nem tanto, se calhar nem ia resultar, sabemos lá... mas nunca tentámos e isso é o que dói. Descrevi-te com exactidão a outras pessoas, até te descrevi a ti mesma na terceira pessoa, mas nunca deu para perceber o que eu via totalmente em ti, as pessoas só viam um sorriso e a felicidade saltitante, tipo pulga irrequieta, que me caracterizava. Uma vez li uma frase que explicava que quando duvidamos de com quem queremos ficar e nos encontramos entre duas pessoas, devíamos sempre pensar na razão pela qual a segunda apareceu e nos tornou tudo confuso, mas pelos vistos isso só resultava na frase feita que eu li algures; na vida real a história é outra.
E agora, se me dás licença Alice, vou tratar de me pôr de pé, só estava deitado à espera que me viesses abraçar e dizer adeus, mas isso não dá para fazer através do espelho.
Havia risos que ficaram por rir e coisas que ficaram por falar, coisas que agora são histórias que se podem só imaginar, isto se quisermos tornar-nos masoquistas e indagar como teria sido.
Teria sido bom, no mínimo teria sido apenas bom, no limite teria sido quase perfeito, no limite do zigzag da vida fui desencontrando-me de ti até te encontrar e depois, tu saíste aos zigzags da minha vida, optaste por ir saindo devagar, sem me dizer que estavas a entrar no espelho, ó Alice...que foste tu fazer? Nesse espelho não há nada, quanto tempo vais ficar a olhar de fora e a pensar que podias ser mais feliz, em vez de o fazeres activamente?
Alice do espelho, menina das travessuras e do sorriso malandro, do nariz empinado que não se empina tanto, das piadas, dos peidos, dos comportamentos invulgares e senhora absoluta das colheres de café. A tua varanda vai-se esquecer de mim e de nós, tal como tu vais também, e eu claro que sim, tudo não será mais do que uma memória de semanas que podiam ter sido meses, meses que podiam ter sido anos; a tua varanda e tu vão esquecer-se de mim e eu vou esquecer-me de ti, porque é mesmo assim Alice, a vida leva-nos para longe quando não podemos ficar perto.
Nem sei que vai acontecer agora, vou buscar as pinças de arrancar sentimentos, vou abrir-me lentamente e retirar as coisas, vou afogar as coisas em algum álcool, vou pensar em ti inúmeras vezes e nunca mais te vou dizer que o fiz, vou cantar uma ou duas músicas quando estiver em palco e garanto-te que vou pensar em ti, mas nunca o saberás senão através deste texto, é impossível comunicar com um espelho e quanto mais grito, quanto mais dou voltas à cabeça, quanto mais arrancava de mim para suportar isto, mais longe tudo ficava no espelho. De que me vale ter telescópios que olham para os confins do universo, se tu tão perto estás tão longe e impossível de ver? Alice, sabes metade do que perdeste, o resto nem nunca te consegui sequer mostrar. Se calhar ias gostar de algumas coisas e outras nem tanto, se calhar nem ia resultar, sabemos lá... mas nunca tentámos e isso é o que dói. Descrevi-te com exactidão a outras pessoas, até te descrevi a ti mesma na terceira pessoa, mas nunca deu para perceber o que eu via totalmente em ti, as pessoas só viam um sorriso e a felicidade saltitante, tipo pulga irrequieta, que me caracterizava. Uma vez li uma frase que explicava que quando duvidamos de com quem queremos ficar e nos encontramos entre duas pessoas, devíamos sempre pensar na razão pela qual a segunda apareceu e nos tornou tudo confuso, mas pelos vistos isso só resultava na frase feita que eu li algures; na vida real a história é outra.
E agora, se me dás licença Alice, vou tratar de me pôr de pé, só estava deitado à espera que me viesses abraçar e dizer adeus, mas isso não dá para fazer através do espelho.
sábado, julho 09, 2011
sexta-feira, julho 09, 2010
Lembro-me bem de tudo...
Lembro-me do dia em que te conheci e julguei logo ali que tinha conhecido a pessoa com quem queria passar o resto da minha vida, lembro-me de adormecer a sorrir porque te tinha encontrado, embora nada na altura fizesse crer que sequer conseguisse ter-te.
Lembro-me da forma como cheiravas e da forma como te rias, da forma como demos a mão naquela noite, sem querer ou por querer, a forma como me agarraste era como quem dizia "segura-me e nunca me largues mais"...eu assim tentei fazer. Lembro-me de te pedir o número, só para o caso de alguma vez te querer dizer alguma coisa, como o malandro que não sabe mais o que fazer e tem de inventar alguma desculpa para poder ter uma razão para te dizer alguma coisa, como daquela vez que te perguntei tão simplesmente, "ouve lá tu és extreme não és?", só mesmo para te poder dizer alguma coisa e tentar lembrar-te que ainda estava ali. Tu se calhar não te lembras, é provável, essa memória nunca foi o teu forte.
Lembro-me de tantas coisas, e agora que me dizes que estamos distantes, além de separados, lembro-me ainda mais das coisas que nos juntaram, das promessas que nunca fizemos, das coisas que pensámos sem nunca o dizer, de tudo o que construímos juntos e que acabámos por destruir.
Não é uma história de desgraça, é uma desgraça de história, porque termina com dois infelizes separados que num mundo ideal se calhar estariam juntos, orientados das suas cabeças, felizes, mas não é assim que estamos, nem vamos ficar, eu sei que nunca mais vai haver um nós, é por isso que escrevo sobre isso, é por isso que não sei dizer mais nada, nem me lamento nem queixo melhor que isto, estou mudo e tudo o que te podia dizer já to disse tantas vezes.
Lembro-me da primeira vez que nos beijámos, já passado tanto tempo de brincarmos aos adolescentes irrequietos que não sabem o que fazer, lembro-me de me apareceres a cheirar a bebida, mascarada de bruxa num dia das bruxas, de madrugada ao pé de minha casa, só para me dar um beijo...lembro-me do acidente que tiveste a seguir a atravessar a ponte, do quanto isso te marcou, mas aquela ponte nunca foi minha e eu nunca sequer me senti tão pequeno perante a tua vontade enorme de me beijar e ver, longe vão os dias que isso acontecia. Lembro-me de ficarmos na praia sozinhos, a comer empadas e enrolados um no outro, enquanto te queixavas que devias ir trabalhar na tua tese, afinal de contas também estávamos ali para isso, mas quem é que realmente queria trabalhar numa tese quando se podia estar na praia ali, daquela maneira? As coisas já não estavam bem aí, mas fizemos um esforço para que corressem melhor, nem que fosse naquele fim-de-semana não é? Se calhar foi a única despedida decente a que tivemos direito, um fim-de-semana só nosso, alguns meses antes de tudo acabar.
Lembro-me da primeira vez que choraste e me chamaste a atenção para o facto peculiar de quando choras as tuas lágrimas caírem aos pares, lembro-me que nessa noite estavas perdida sem saber o que fazer e eu sem saber o que dizer, lembro-me que decidimos em conjunto não falarmos mais de nós, porque éramos só um Tu e Eu. Lembro-me que nem passaram sequer 3 horas, já tinha uma mensagem tua a perguntar-me coisas, macacos me mordam se naquela altura alguém queria resistir a alguma coisa.
Lembro-me de quando o tempo não importava, as horas também não, quando os muros sujos da nossa cidade eram um encosto igual ou melhor que qualquer outro para nos abraçarmos, quando em plena rua podíamos ouvir música e dançar só os dois, lembro-me de lanches e finais de tarde, os dois ou com mais gente, lembro-me de jantares, lembro-me de adormecer abraçado a ti a pensar que não queria absolutamente mais nada, senão acordar todos os dias da minha vida e ver-te, reclamar contigo e tu comigo, abraçar-te...eu sei lá.
Lembro-me de cantar para ti, tanto quanto possível em bom tom, mas se calhar desafinado ou mal cantado, lembro-me de o sentir ao fazer-te uma serenata só a ti, atrás de uma roulotte de hamburgers no castelo de lisboa, ah e quem olhasse para os teus olhos não precisava de ouvir mais nada da tua boca, os teus olhos beijavam-me e a tua boca estava parada à espera que a minha se calasse, para me beijar. Estas coisas não se compram nem se arranjam em qualquer lado, com todas as pessoas, é por isso que nos marcam.
Lembro-me de cozinharmos os dois juntos, eu sempre a sujar tudo e tu com algum cuidado, de ficarmos a falar de tantas coisas que nos fascinavam, como se fosse um programa de televisão em que se debatiam assuntos interessantes para nós, com os pratos sujos à nossa frente e uma cerveja para cada um de nós, nós não éramos simplesmente namorados, éramos companheiros e amigos. Lembro-me de ficar abraçado a ti em tantas ocasiões, lembro-me de ver o teu desespero por achares que nunca ias conseguir acabar a tese, essa maldição temporária que te lançaram e que junto com o teu trabalho, te foi levando lentamente para longe de mim. Lembro-me de nessas alturas tentar por tudo animar-te, ajudar-te como sabia e podia, sem desistir de te dar força, e lá chegaste ao fim de tudo isso, para meu grande orgulho, embora ache que nunca acreditaste no orgulho que senti em ti no dia que acabaste o curso, mas nessa altura já tudo era tão complicado, que aquele "festejo" foi mais surreal do que agradável, naquela altura já quase se via bem o que estava para acontecer, ainda assim, merecias que festejasse por ti e contigo, se possível.
Lembro-me quando tudo acabou, a 1ª e a 2ª vez, qual delas a pior? Não escolho nenhuma, porque se uma foi uma surpresa, a outra foi dilacerante; sempre tiveste o dom de me tirar o ar, no bom e no mau sentido, sempre tiveste o dom de ser uma surpresa. Lembro-me de sentir as forças a fugir e de me tentar fazer de forte, de bruto, de mal-educado, de animal ferido em que tudo o que lhe é mais prezado, de vagabundo que vê alguém desperdiçar algo que é precioso...há quem diga que é a vida, eu digo como já te disse, a vida é uma merda, e a prova é esta história. Tu respondeste-me que a merda eras tu...
E agora? Como diz um amigo meu, "elas parece que estão sempre bem não é? Às vezes estão até pior que nós!", não acredito nisto porque é uma inversão do sentido lógico, há quem disfarce melhor e pior, eu acredito que as pessoas se afastam, umas e outras, por uma razão ou porque procuram a própria razão. Umas porque falham e outras porque não querem falhar.
Lembro-me de me apaixonar por ti, pelas tuas frases e pelos teus defeitos, mas isso sou eu que sou um animal com memória a mais, tu por certo ainda te lembras de algumas coisas que eu não me lembro, nem todas boas nem todas más. Hoje em dia esse tipo de coisas só servem para nos magoar ainda mais, memórias são coisas que abundam, são pedaços de coisas que fizemos juntos que voltam agora para marcar ainda mais este momento, o estar sozinho (pelo menos no meu caso, não sei como é contigo) tem a tendência de se agudizar com estas pequenas coisas, as saudades... às vezes ainda me engano e quando acabo de escrever uma mensagem, já estou a ir à tua letra na agenda do telemóvel, às vezes páro e fico a olhar para o teu nome, rio-me baixinho muito brevemente, talvez da minha incapacidade em desligar-me do hábito que era mandar-te uma mensagem, e aí imagino-te nessa mesma altura do dia, ignorando que estou a pensar em ti, na tua vida a fazeres o que estiveres a fazer...nessas alturas confesso-te que desejo que estivesses também a lembrar-te de mim.
Não faço ideia se vais ler isto, já sei que estamos afastados e se calhar perdeste o hábito de me ler, até porque já sei que te custa vir aqui, gostava que o lesses, não to envio porque lá está, estamos como estamos e isto já era demais para te enviar, se o leres não sei o que vais sentir, provavelmente nem tu.
Perdi-te e não há palavras que te tragam de volta, para esse efeito, acho até que não há nada que te traga de volta, tens a tua vida e escolheste seguir esse caminho, longe de nós.
Enfatizo, perder ao mesmo tempo, namorada amiga e companheira, é demais, para quem olhava isso com bons olhos em relação ao futuro.
Não há muito mais a lembrar, pelo menos aqui.
Lembro-me do dia em que te conheci e julguei logo ali que tinha conhecido a pessoa com quem queria passar o resto da minha vida, lembro-me de adormecer a sorrir porque te tinha encontrado, embora nada na altura fizesse crer que sequer conseguisse ter-te.
Lembro-me da forma como cheiravas e da forma como te rias, da forma como demos a mão naquela noite, sem querer ou por querer, a forma como me agarraste era como quem dizia "segura-me e nunca me largues mais"...eu assim tentei fazer. Lembro-me de te pedir o número, só para o caso de alguma vez te querer dizer alguma coisa, como o malandro que não sabe mais o que fazer e tem de inventar alguma desculpa para poder ter uma razão para te dizer alguma coisa, como daquela vez que te perguntei tão simplesmente, "ouve lá tu és extreme não és?", só mesmo para te poder dizer alguma coisa e tentar lembrar-te que ainda estava ali. Tu se calhar não te lembras, é provável, essa memória nunca foi o teu forte.
Lembro-me de tantas coisas, e agora que me dizes que estamos distantes, além de separados, lembro-me ainda mais das coisas que nos juntaram, das promessas que nunca fizemos, das coisas que pensámos sem nunca o dizer, de tudo o que construímos juntos e que acabámos por destruir.
Não é uma história de desgraça, é uma desgraça de história, porque termina com dois infelizes separados que num mundo ideal se calhar estariam juntos, orientados das suas cabeças, felizes, mas não é assim que estamos, nem vamos ficar, eu sei que nunca mais vai haver um nós, é por isso que escrevo sobre isso, é por isso que não sei dizer mais nada, nem me lamento nem queixo melhor que isto, estou mudo e tudo o que te podia dizer já to disse tantas vezes.
Lembro-me da primeira vez que nos beijámos, já passado tanto tempo de brincarmos aos adolescentes irrequietos que não sabem o que fazer, lembro-me de me apareceres a cheirar a bebida, mascarada de bruxa num dia das bruxas, de madrugada ao pé de minha casa, só para me dar um beijo...lembro-me do acidente que tiveste a seguir a atravessar a ponte, do quanto isso te marcou, mas aquela ponte nunca foi minha e eu nunca sequer me senti tão pequeno perante a tua vontade enorme de me beijar e ver, longe vão os dias que isso acontecia. Lembro-me de ficarmos na praia sozinhos, a comer empadas e enrolados um no outro, enquanto te queixavas que devias ir trabalhar na tua tese, afinal de contas também estávamos ali para isso, mas quem é que realmente queria trabalhar numa tese quando se podia estar na praia ali, daquela maneira? As coisas já não estavam bem aí, mas fizemos um esforço para que corressem melhor, nem que fosse naquele fim-de-semana não é? Se calhar foi a única despedida decente a que tivemos direito, um fim-de-semana só nosso, alguns meses antes de tudo acabar.
Lembro-me da primeira vez que choraste e me chamaste a atenção para o facto peculiar de quando choras as tuas lágrimas caírem aos pares, lembro-me que nessa noite estavas perdida sem saber o que fazer e eu sem saber o que dizer, lembro-me que decidimos em conjunto não falarmos mais de nós, porque éramos só um Tu e Eu. Lembro-me que nem passaram sequer 3 horas, já tinha uma mensagem tua a perguntar-me coisas, macacos me mordam se naquela altura alguém queria resistir a alguma coisa.
Lembro-me de quando o tempo não importava, as horas também não, quando os muros sujos da nossa cidade eram um encosto igual ou melhor que qualquer outro para nos abraçarmos, quando em plena rua podíamos ouvir música e dançar só os dois, lembro-me de lanches e finais de tarde, os dois ou com mais gente, lembro-me de jantares, lembro-me de adormecer abraçado a ti a pensar que não queria absolutamente mais nada, senão acordar todos os dias da minha vida e ver-te, reclamar contigo e tu comigo, abraçar-te...eu sei lá.
Lembro-me de cantar para ti, tanto quanto possível em bom tom, mas se calhar desafinado ou mal cantado, lembro-me de o sentir ao fazer-te uma serenata só a ti, atrás de uma roulotte de hamburgers no castelo de lisboa, ah e quem olhasse para os teus olhos não precisava de ouvir mais nada da tua boca, os teus olhos beijavam-me e a tua boca estava parada à espera que a minha se calasse, para me beijar. Estas coisas não se compram nem se arranjam em qualquer lado, com todas as pessoas, é por isso que nos marcam.
Lembro-me de cozinharmos os dois juntos, eu sempre a sujar tudo e tu com algum cuidado, de ficarmos a falar de tantas coisas que nos fascinavam, como se fosse um programa de televisão em que se debatiam assuntos interessantes para nós, com os pratos sujos à nossa frente e uma cerveja para cada um de nós, nós não éramos simplesmente namorados, éramos companheiros e amigos. Lembro-me de ficar abraçado a ti em tantas ocasiões, lembro-me de ver o teu desespero por achares que nunca ias conseguir acabar a tese, essa maldição temporária que te lançaram e que junto com o teu trabalho, te foi levando lentamente para longe de mim. Lembro-me de nessas alturas tentar por tudo animar-te, ajudar-te como sabia e podia, sem desistir de te dar força, e lá chegaste ao fim de tudo isso, para meu grande orgulho, embora ache que nunca acreditaste no orgulho que senti em ti no dia que acabaste o curso, mas nessa altura já tudo era tão complicado, que aquele "festejo" foi mais surreal do que agradável, naquela altura já quase se via bem o que estava para acontecer, ainda assim, merecias que festejasse por ti e contigo, se possível.
Lembro-me quando tudo acabou, a 1ª e a 2ª vez, qual delas a pior? Não escolho nenhuma, porque se uma foi uma surpresa, a outra foi dilacerante; sempre tiveste o dom de me tirar o ar, no bom e no mau sentido, sempre tiveste o dom de ser uma surpresa. Lembro-me de sentir as forças a fugir e de me tentar fazer de forte, de bruto, de mal-educado, de animal ferido em que tudo o que lhe é mais prezado, de vagabundo que vê alguém desperdiçar algo que é precioso...há quem diga que é a vida, eu digo como já te disse, a vida é uma merda, e a prova é esta história. Tu respondeste-me que a merda eras tu...
E agora? Como diz um amigo meu, "elas parece que estão sempre bem não é? Às vezes estão até pior que nós!", não acredito nisto porque é uma inversão do sentido lógico, há quem disfarce melhor e pior, eu acredito que as pessoas se afastam, umas e outras, por uma razão ou porque procuram a própria razão. Umas porque falham e outras porque não querem falhar.
Lembro-me de me apaixonar por ti, pelas tuas frases e pelos teus defeitos, mas isso sou eu que sou um animal com memória a mais, tu por certo ainda te lembras de algumas coisas que eu não me lembro, nem todas boas nem todas más. Hoje em dia esse tipo de coisas só servem para nos magoar ainda mais, memórias são coisas que abundam, são pedaços de coisas que fizemos juntos que voltam agora para marcar ainda mais este momento, o estar sozinho (pelo menos no meu caso, não sei como é contigo) tem a tendência de se agudizar com estas pequenas coisas, as saudades... às vezes ainda me engano e quando acabo de escrever uma mensagem, já estou a ir à tua letra na agenda do telemóvel, às vezes páro e fico a olhar para o teu nome, rio-me baixinho muito brevemente, talvez da minha incapacidade em desligar-me do hábito que era mandar-te uma mensagem, e aí imagino-te nessa mesma altura do dia, ignorando que estou a pensar em ti, na tua vida a fazeres o que estiveres a fazer...nessas alturas confesso-te que desejo que estivesses também a lembrar-te de mim.
Não faço ideia se vais ler isto, já sei que estamos afastados e se calhar perdeste o hábito de me ler, até porque já sei que te custa vir aqui, gostava que o lesses, não to envio porque lá está, estamos como estamos e isto já era demais para te enviar, se o leres não sei o que vais sentir, provavelmente nem tu.
Perdi-te e não há palavras que te tragam de volta, para esse efeito, acho até que não há nada que te traga de volta, tens a tua vida e escolheste seguir esse caminho, longe de nós.
Enfatizo, perder ao mesmo tempo, namorada amiga e companheira, é demais, para quem olhava isso com bons olhos em relação ao futuro.
Não há muito mais a lembrar, pelo menos aqui.
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