quinta-feira, setembro 15, 2011

Mentia se dissesse que não sinto a tua falta, mas também mentia se não dissesse que este fosso que cavei é a melhor coisa que fiz nos últimos tempos. Mentia se não dissesse que já pensei construir uma prancha de madeira para atravessar o fosso, mas também mentia se dissesse que não sabia que isso seria horrível e que a tua existência, neste momento, é incompatível com a minha. Subitamente todas as músicas voltaram a falar de ti, todas as coisas escritas falam do teu nome e até os cães na rua parecem ladrar-me de ti, é como se o mundo tivesse acordado todos os dias para me massacrar. É nessas alturas que agarro no telemóvel e parece que me debato com uma força invisível, sou eu contra o mundo, acabando por me enganar a mim mesmo e penso que só queria ver as horas, horas que não passam depressa demais, as horas sempre se associaram à tua existência; as horas que passavam a correr na tua presença, as horas que passam devagar demais se penso em ti, conto os minutos todos para te esquecer, nunca mais é hora de simplesmente recordar tudo com um olhar fácil e desinteressado, nunca mais é hora de perder vontade de te ver.
Acho que simplesmente tenho de cavar mais fundo e ver o que encontro na distância, porque ao perto só encontraria a confrontação de uma idealização que caiu por terra.

terça-feira, setembro 13, 2011

All is burned, deleted or star-crossed.
Done it.

sábado, setembro 10, 2011

Vamos chamar-te Alice, porque vives do outro lado do espelho. Nesse espelho confuso e baço, onde as coisas ora reflectem com sol ora com nuvens, onde os sorrisos podem tornar-se semblantes pesados num instante, onde a certeza de hoje é a dúvida de amanhã. Vamos dizer, "alice, sai do espelho..por amor de deus!". E tu não ouves...no entanto estás ali tão perto que até dói só de olhar, tanta beleza que se escapa por entre os murmúrios e os lamentos, tanta coisa desperdiçada que agora não sou eu que te vou dar...e tinha demasiado, muito mesmo, para te dar.
Havia risos que ficaram por rir e coisas que ficaram por falar, coisas que agora são histórias que se podem só imaginar, isto se quisermos tornar-nos masoquistas e indagar como teria sido.
Teria sido bom, no mínimo teria sido apenas bom, no limite teria sido quase perfeito, no limite do zigzag da vida fui desencontrando-me de ti até te encontrar e depois, tu saíste aos zigzags da minha vida, optaste por ir saindo devagar, sem me dizer que estavas a entrar no espelho, ó Alice...que foste tu fazer? Nesse espelho não há nada, quanto tempo vais ficar a olhar de fora e a pensar que podias ser mais feliz, em vez de o fazeres activamente?
Alice do espelho, menina das travessuras e do sorriso malandro, do nariz empinado que não se empina tanto, das piadas, dos peidos, dos comportamentos invulgares e senhora absoluta das colheres de café. A tua varanda vai-se esquecer de mim e de nós, tal como tu vais também, e eu claro que sim, tudo não será mais do que uma memória de semanas que podiam ter sido meses, meses que podiam ter sido anos; a tua varanda e tu vão esquecer-se de mim e eu vou esquecer-me de ti, porque é mesmo assim Alice, a vida leva-nos para longe quando não podemos ficar perto.
Nem sei que vai acontecer agora, vou buscar as pinças de arrancar sentimentos, vou abrir-me lentamente e retirar as coisas, vou afogar as coisas em algum álcool, vou pensar em ti inúmeras vezes e nunca mais te vou dizer que o fiz, vou cantar uma ou duas músicas quando estiver em palco e garanto-te que vou pensar em ti, mas nunca o saberás senão através deste texto, é impossível comunicar com um espelho e quanto mais grito, quanto mais dou voltas à cabeça, quanto mais arrancava de mim para suportar isto, mais longe tudo ficava no espelho. De que me vale ter telescópios que olham para os confins do universo, se tu tão perto estás tão longe e impossível de ver? Alice, sabes metade do que perdeste, o resto nem nunca te consegui sequer mostrar. Se calhar ias gostar de algumas coisas e outras nem tanto, se calhar nem ia resultar, sabemos lá... mas nunca tentámos e isso é o que dói. Descrevi-te com exactidão a outras pessoas, até te descrevi a ti mesma na terceira pessoa, mas nunca deu para perceber o que eu via totalmente em ti, as pessoas só viam um sorriso e a felicidade saltitante, tipo pulga irrequieta, que me caracterizava. Uma vez li uma frase que explicava que quando duvidamos de com quem queremos ficar e nos encontramos entre duas pessoas, devíamos sempre pensar na razão pela qual a segunda apareceu e nos tornou tudo confuso, mas pelos vistos isso só resultava na frase feita que eu li algures; na vida real a história é outra.
E agora, se me dás licença Alice, vou tratar de me pôr de pé, só estava deitado à espera que me viesses abraçar e dizer adeus, mas isso não dá para fazer através do espelho.